terça-feira, 27 de outubro de 2009

As trevas...Lord Byron

Tive um sonho que em tudo não foi sonho!...O sol brilhante se apagava: e os astros,Do eterno espaço na penumbra escura,Sem raios, e sem trilhos, vagueavam.A terra fria balouçava cega E tétrica no espaço ermo de lua.A manhã ia, vinha... e regressava...Mas não trazia o dia! Os homens pasmos Esqueciam no horror dessas ruínas Suas paixões: E as almas conglobadas Gelavam-se num grito de egoísmo Que demandava "luz". Junto às fogueiras Abrigavam-se... e os tronos e os palácios,Os palácios dos reis, o albergue e a choça Ardiam por fanais. Tinham nas chamas As cidades morrido. Em torno às brasas Dos seus lares os homens se grupavam, P'ra à vez extrema se fitarem juntos.Feliz de quem vivia junto às lavas Dos vulcões sob a tocha alcantilada!Hórrida esperança acalentava o mundo!As florestas ardiam!... de hora em hora Caindo se apagavam; creditando,Lascado o tronco desabava em cinzas.E tudo... tudo as trevas envolviam.As frontes ao clarão da luz doente Tinham do inferno o aspecto... quando às vezes As faíscas das chamas borrifavam-nas.Uns, de bruços no chão, tapando os olhos Choravam. Sobre as mãos cruzadas — outros —Firmando a barba, desvairados riam. Outros correndo à toa procuravam O ardente pasto p'ra funéreas piras. Inquietos, no esgar do desvario,Os olhos levantavam p'ra o céu torvo,Vasto sudário do universo — espectro —E após em terra se atirando em raivas,Rangendo os dentes, blásfemos, uivavam!Lúgubre grito os pássaros selvagens Soltavam, revoando espavoridos Num voo tonto co'as inúteis asas!As feras 'stavam mansas e medrosas!As víboras rojando s'enroscavam Pelos membros dos homens, sibilantes,Mas sem veneno... a fome Ihes matavam!E a guerra, que um momento s'extinguira,De novo se fartava. Só com sangue Comprava-se o alimento, e após à parte Cada um se sentava taciturno,P'ra fartar-se nas trevas infinitas!Já não havia amor!... O mundo inteiro Era um só pensamento, e o pensamentoEra a morte sem glória e sem detença!O estertor da fome apascentava-se Nas entranhas... Ossada ou carne pútrida Ressupino, insepulto era o cadáver.Mordiam-se entre si os moribundos:Mesmo os cães se atiravam sobre os donos,Todos exceto um só... que defendia O cadáver do seu, contra os ataques Dos pássaros, das feras e dos homens,Até que a fome os extinguisse, ou fossem Os dentes frouxos saciar algures!Ele mesmo alimento não buscava...Mas, gemendo num uivo longo e triste,Morreu lambendo a mão, que inanimada Já não podia lhe pagar o afeto.Faminta a multidão morrera aos poucos. Escaparam dous homens tão-somente De uma grande cidade. E se odiavam...Foi junto dos lições quase apagados De um altar, sobre o qual se amontoaram Sacros objetos p'ra um profano uso,Que encontraram-se os dous... e, as cinzas mornas Reunindo nas mãos frias de espectros, De seus sopros exaustos ao bafejo Uma chama irrisória produziram!...Ao clarão que tremia sobre as cinzas Olharam-se e morreram dando um grito.Mesmo da própria hediondez morreram, Desconhecendo aquele em cuja fronte Traçara a fome o nome de Duende!O mundo fez-se um vácuo. A terra esplêndida, Populosa tornou-se numa massa Sem estações, sem árvores, sem erva.Sem verdura, sem homens e sem vida, Caos de morte, inanimada argila!Calaram-se o Oceano, o rio, os lagos!Nada turbava a solidão profunda!Os navios no mar apodreciam Sem marujos! os mastros desabando Dormiam sobre o abismo, sem que ao menos Uma vaga na queda a levantassem,Tinham morrido as vagas! e jaziam As marés no seu túmulo... antes dela A lua que as guiava era já morta!No estagnado céu murchara o vento;Esvaíram-se as nuvens. E nas trevas Era só trevas o universo inteiro.

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