terça-feira, 20 de outubro de 2009

sol dos Insones-Lord Byron

Sol dos insones! Ó astro de melancolia!Arde teu raio em pranto, longe a tremular,E expões a treva que não podes dissipar:Que semelhante és à lembrança da alegria!
Assim raia o passado, a luz de tanto dia,Que brilha sem com raios fracos aquecer;Noturna, uma tristeza vela para ver,Distinta mas distante,clara mas fria!

Tu me Chamas-Lord Byron

Tu Me Chamas Canção, parodiada do português por Lord Byron.Tradução de João Cardoso de Menezes e Souza (Barão de Paranapiacaba).

Em momentos de delícia, Extática, embevecida, Numa voz, toda carícia, Tu me chamas: "Minha vida!" Sentira, à frase tão doce, Exultar-me o coração, Se a nossa existência fosse De perpétua duração. Levam-nos esses momentos Ao fim comum dos mortais. Ou não saiam tais acentos Dos lábios teus nunca mais, Ou, mudando a frase terna, "Minha alma", podes dizer. Pois a alma não morre; eterna Qual meu amor, há de ser.

A uma taça feita de um crânio humano- Lord Byron

Tradução de Castro Alves do poema

Tradução publicada em Espumas Flutuantes.

Não recues! De mim não foi-se o espírito...Em mim verás — pobre caveira fria —Único crânio que, ao invés dos vivos,Só derrama alegria.Vivi! amei! bebi qual tu: Na morte Arrancaram da terra os ossos meus.Não me insultes! empina-me!... que a larvaTem beijos mais sombrios do que os teus.Mais val guardar o sumo da parreiraDo que ao verme do chão ser pasto vil;—Taça — levar dos Deuses a bebida,Que o pasto do reptil.Que este vaso, onde o espírito brilhava,Vá nos outros o espírito acender.Ai! Quando um crânio já não tem mais cérebro... Podeis de vinho o encher!Bebe, enquanto inda é tempo! Uma outra raça,Quando tu e os teus fordes nos fossos,Pode do abraço te livrar da terra,E ébria folgando profanar teus ossos.E por que não? Se no correr da vida Tanto mal, tanta dor ai repousa?É bom fugindo à podridão do lado Servir na morte enfim p'ra alguma coisa!...
O Crepúsculo da Tarde-Lord Byron

Tradução de Francisco Otaviano

Anão e servos, menestrel e bardos,o árabe narrador e as bailarinasdesertaram das salas do banquete.Haydéa e seu amante, a sós, estavam,vendo o sol que em desmaio no ocidentebordava o céu de franjas cor-de-rosa.Ave-Maria! estrela do viandante,tu conduzes ao pouso o peregrinoque anda, longe dos seus, na terra estranha.Salve, estrela do mar; em ti se fitamolhos e coração do marinheiroque no oceano te saúda agora.Salve, rainha excelsa, Ave-Maria!Ei-la que chega a hora do teu culto,à tardinha, em céu meigo, à luz do ocaso!Bendita seja est'hora tão querida,e o tempo, e o clima, e os sítios suspirados,onde eu gozava na manhã da vidao enlevo, - o santo enlevo, - deste instante!Soava ao longe, - bem me lembro ainda, -na velha torre o sino do mosteiro;subia ao céu em notas morredouraso harmonioso cântico da tarde;era tudo silêncio, - e só se ouviaa natureza a suspirar seus hinosde arroubo e fé, - de devoção e pasmo.Hora do coração, do amor, das preces,Salve, Maria. Enlevo a ti minha alma,Como é formoso o oval de teu semblante!Amo teu rosto feiticeiro e belo,amo o doce recato de teus olhos,que se cravam na terra, enquanto adejamsobre tua puríssima cabeçacândidas asas de celeste anúncio!Será isto um painel da fantasia?Um quadro, um canto, uma legenda, um sonho?Não! somente me prostro ante a verdade.Aprazem-se uns obscuros casuístasem criminar-me de ímpio. - Eles que venhamajoelhar-se e suplicar comigo...Veremos qual de nós melhor conheceo caminho do céu. - São meus altaresas montanhas, as vagas do oceano,a terra, o ar, os astros, o universo,tudo o que emana da sublime Essência,de onde exalou-se, e aonde irá minh'alma.Hora doce do trêmulo crepúsculo!quantas vezes errante, junto à praia,na solidão dos bosques de Ravena,que se alastram por onde antigamenteflutuavam as ondas do Adriático,Bosques frondosos, para mim sagradospelos graciosos contos do Boccácio,pelos versos de Dryden; - quantas vezesaí cismei aos arrebóis da tarde!Tudo o que há de mais grato, a ti devemos,ó Héspero: - ao romeiro fatigadodás a hospedagem: - a cansado obreiro,a refeição da tarde; - ao passarinho,a asa da mãe; - ao boi, o aprisco:toda a paz que se goza em torno aos lares,o quente, o meigo aninho dos penates,descem contigo à hora do repouso,tu coas n'alma o doce da saudade;moves o coração, que a vez primeirasai da terra natal, deixa os amigos,e anda à mercê das ondas do oceano:enterneces, enfim, o peregrinoao som da torre, cuja voz sentidacomo que chora o dia moribundo.

Macário (trecho)- Alvares de Azevedo

Satan: Onde vais?
Macário: Sempre tu, maldito!
Satan: Onde vais? Sabes de Penseroso?
Macário: Vou ter com ele.
Satan: Vai, doido, vai! que chegarás tarde! Penseroso morreu.
Macário: Mataram-no!
Satan: Matou-se.
Macário: Bem.
Satan: Vem comigo.
Macário: Vai-te.
Satan: És uma criança. Ainda não saboreaste a vida e já gravitas para a morte.

Macário: Vai-te, maldito!
Satan ( afastando -se): Abrir a alma ao desespero é dá-la a Satan. Tu és meu. Marquei-te na fronte com meu dedo. Não te perco de vista. Assim te guardarei melhor. Ouvirás mais facilmente minha voz partindo de tua carne que entrando pelos teus ouvidos.
(Uma rua) (Macário e Satan de braços dados.)
Satan: Estás ébrio? Cambaleias.
Macário: Onde me levas?
Satan: A uma orgia. Vais ler uma página da vida cheia de sangue e de vinho-que importa?
Macário: É aqui, não? Ouço vociferar a saturnal lá dentro.
Satan: Paremos aqui. Espia nessa janela.
Macário: Eu vejo-os. É uma sala fumacenta. À roda da mesa estão sentados cinco homens ébrios. Os mais revolvem-se no chão. Dormem ali mulheres desgrenhadas, umas lívidas, outras vermelhas Que noite!
Satan: Que vida! não é assim? Pois bem! escuta, Macário. Há homens para quem essa vida é mais suave que a outra. O vinho é como o ópio, é o Letes do esquecimento... A embriaguez é como a morte. . .
Macário: Cala-te. Ouçamos.

FIM