terça-feira, 20 de outubro de 2009

O Crepúsculo da Tarde-Lord Byron

Tradução de Francisco Otaviano

Anão e servos, menestrel e bardos,o árabe narrador e as bailarinasdesertaram das salas do banquete.Haydéa e seu amante, a sós, estavam,vendo o sol que em desmaio no ocidentebordava o céu de franjas cor-de-rosa.Ave-Maria! estrela do viandante,tu conduzes ao pouso o peregrinoque anda, longe dos seus, na terra estranha.Salve, estrela do mar; em ti se fitamolhos e coração do marinheiroque no oceano te saúda agora.Salve, rainha excelsa, Ave-Maria!Ei-la que chega a hora do teu culto,à tardinha, em céu meigo, à luz do ocaso!Bendita seja est'hora tão querida,e o tempo, e o clima, e os sítios suspirados,onde eu gozava na manhã da vidao enlevo, - o santo enlevo, - deste instante!Soava ao longe, - bem me lembro ainda, -na velha torre o sino do mosteiro;subia ao céu em notas morredouraso harmonioso cântico da tarde;era tudo silêncio, - e só se ouviaa natureza a suspirar seus hinosde arroubo e fé, - de devoção e pasmo.Hora do coração, do amor, das preces,Salve, Maria. Enlevo a ti minha alma,Como é formoso o oval de teu semblante!Amo teu rosto feiticeiro e belo,amo o doce recato de teus olhos,que se cravam na terra, enquanto adejamsobre tua puríssima cabeçacândidas asas de celeste anúncio!Será isto um painel da fantasia?Um quadro, um canto, uma legenda, um sonho?Não! somente me prostro ante a verdade.Aprazem-se uns obscuros casuístasem criminar-me de ímpio. - Eles que venhamajoelhar-se e suplicar comigo...Veremos qual de nós melhor conheceo caminho do céu. - São meus altaresas montanhas, as vagas do oceano,a terra, o ar, os astros, o universo,tudo o que emana da sublime Essência,de onde exalou-se, e aonde irá minh'alma.Hora doce do trêmulo crepúsculo!quantas vezes errante, junto à praia,na solidão dos bosques de Ravena,que se alastram por onde antigamenteflutuavam as ondas do Adriático,Bosques frondosos, para mim sagradospelos graciosos contos do Boccácio,pelos versos de Dryden; - quantas vezesaí cismei aos arrebóis da tarde!Tudo o que há de mais grato, a ti devemos,ó Héspero: - ao romeiro fatigadodás a hospedagem: - a cansado obreiro,a refeição da tarde; - ao passarinho,a asa da mãe; - ao boi, o aprisco:toda a paz que se goza em torno aos lares,o quente, o meigo aninho dos penates,descem contigo à hora do repouso,tu coas n'alma o doce da saudade;moves o coração, que a vez primeirasai da terra natal, deixa os amigos,e anda à mercê das ondas do oceano:enterneces, enfim, o peregrinoao som da torre, cuja voz sentidacomo que chora o dia moribundo.

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