terça-feira, 20 de outubro de 2009

Macário (trecho)- Alvares de Azevedo

Satan: Onde vais?
Macário: Sempre tu, maldito!
Satan: Onde vais? Sabes de Penseroso?
Macário: Vou ter com ele.
Satan: Vai, doido, vai! que chegarás tarde! Penseroso morreu.
Macário: Mataram-no!
Satan: Matou-se.
Macário: Bem.
Satan: Vem comigo.
Macário: Vai-te.
Satan: És uma criança. Ainda não saboreaste a vida e já gravitas para a morte.

Macário: Vai-te, maldito!
Satan ( afastando -se): Abrir a alma ao desespero é dá-la a Satan. Tu és meu. Marquei-te na fronte com meu dedo. Não te perco de vista. Assim te guardarei melhor. Ouvirás mais facilmente minha voz partindo de tua carne que entrando pelos teus ouvidos.
(Uma rua) (Macário e Satan de braços dados.)
Satan: Estás ébrio? Cambaleias.
Macário: Onde me levas?
Satan: A uma orgia. Vais ler uma página da vida cheia de sangue e de vinho-que importa?
Macário: É aqui, não? Ouço vociferar a saturnal lá dentro.
Satan: Paremos aqui. Espia nessa janela.
Macário: Eu vejo-os. É uma sala fumacenta. À roda da mesa estão sentados cinco homens ébrios. Os mais revolvem-se no chão. Dormem ali mulheres desgrenhadas, umas lívidas, outras vermelhas Que noite!
Satan: Que vida! não é assim? Pois bem! escuta, Macário. Há homens para quem essa vida é mais suave que a outra. O vinho é como o ópio, é o Letes do esquecimento... A embriaguez é como a morte. . .
Macário: Cala-te. Ouçamos.

FIM

4 comentários:

  1. Macário

    Macário é uma peça teatral escrita por Álvares de Azevedo pouco antes de morrer em conseqüência da tuberculose, e logo depois de ter sonhado um encontro seu com satã. O livro foi publicado em 1852 e denuncia questões sociais. Este livro revela bastante ligações com o Romantismo, movimento literário da época. Através da obra, revela sentimentos presentes nos românticos através de fatos vivenciados pelos personagens.

    Sinceramente...foi um dos melhores livros escritos depois de um delírio...

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